Moçambique tem realizado eleições gerais desde 1994 e autárquicas desde 1998. E, sempre
que estes processos se aproximam o espaço público é invadido por discursos de candidatos
e/ou dos seus partidos políticos para convencer ao eleitor a alinhar o seu voto com
determinada organização política. O cidadão eleitor igualmente vê o período como sendo
momento de julgar a acção política e oportunidade de finalmente indicar os seus futuros
dirigentes pelo período determinado para outra eleição. Este, se vê na grande força de
orientar o seu destino a partir do simples acto do voto.
É na verdade o tempo de grande intensidade política e, obviamente de proximidade entre o
candidato a eleito e o eleitor. Captar a expectativa deste último e desenhar uma visão que
garanta a aceitação e um programa de acção real para o futuro dirigente é o desafio maior
que caracteriza a relação entre o candidato e o cidadão-eleitor. O manifesto eleitoral tenta
ser a síntese desta intensidade entre a expectativa do eleitor e capacidade inovadora do
candidato em convencer e aliciar o acto de voto em seu favor.
Em facto, neste período o manifesto eleitoral torna-se no instrumento sui generis de
compromisso e trato entre os actores, de enquadramento e ferramenta de marketing do
político. Concebido como uma declaração escrita e pública através da qual um candidato ou
um partido político concorrente a eleição expõe um programa de acção ou uma posição
política, ele estabelece em geral um conjunto de intenções e os modos de acção estratégicos
e técnicos do futuro eleito. No entanto, representa igualmente uma encenação e, em prática,
uma porosidade entre tentativa de convencer a todo o custo e dizer verdade sobre as acções
futuras.
Entre a sua banalidade em termos de importância para orientar o voto e a sua
indispensabilidade para todas as organizações políticas que se queiram apresentar nas
eleições, o manifesto eleitoral vira a linguagem de promessa (simples propaganda política) e
dispositivo de julgamento da capacidade do candidato ou do seu partido em levar a bom
termo a acção colectiva na qual se propõem. O comprometimento com as promessas do
manifesto e as acções reais posteriores podem condicionar a decisão do eleitor para sua
intervenção na esfera pública.
Vezes sem conta, as promessas simplesmente interessadas em atrair o eleitor ao voto sem
correspondência às acções reais, influenciam na participação e engajamento político do
cidadão-eleitor. Ou seja, nalguns momentos os manifestos eleitorais podem desacreditar a
política, criar ou elevar o desinteresse pelas eleições, por consequência os índices de
abstenção podem crescer.
Consciente da importância dos manifestos eleitorais para além do simples período das
eleições, o Instituto para Democracia Multipartidário (IMD), através da Academia Política da
Mulher, dentro de seu compromisso de construir um ambiente político sustentável engajado
entre a acção política e o social inclusiva e participativa, pretente organizar uma Mesa
Redonda, como um momento impar para que os actores politico-eleitorais, em particular o
cidadão/sociedade civil, influencia para que os manifestos sejam mais sensíveis as
preocupações das mulheres, jovens e pessoas com deficiência.
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